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Fuga das convenções

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“Homens que não amavam as mulheres” é surpreendente e denso para mostrar, sob diferentes ângulos, as facetas do relacionamento homem-mulher.

A adaptação do livro sueco “Man som hatar kvinnorpara o cinema, vem para o Brasil com o nome “Os homens que não amavam as mulheres”. O filme homônimo, à primeira vista, parece ser mais um suspense hollywoodiano. Mas o diretor dinamarquês Niels Arden Ople constrói personagens cativantes e explora o tema de forma inteligente durante o enredo do longa metragem.

Surpresa é a palavra que poderia resumir “Os homens que não amavam as mulheres”. Mistério, suspense e ficção atualmente tem sido, de alguma forma, banalizados e colocados dentro de padrões. A forma como tudo isso se encaixa e prende o espectador por meio de sentimentos distintos é digna de destaque.

Acompanhe a crítica em um mini podcast

Criticaoshomens by Lorena Tárcia

Depois de ficar em evidência na mídia por denunciar um caso de desvio de verbas, o jornalista Mikael Blomqvist (Michael Nyqvis) é chamado para investigar o paradeiro de Harriet Vanger, desaparecida desde 1966. Ele aceita e vai para uma ilha onde conhece a pitoresca família Vanger, cujos membros são suspeitos pelo desaparecimento da jovem.

No meio de suas pesquisas, o caminho de Blomqvist se cruza com o da hacker Lisbeth Salander (Noomi Rapace) que foi contratada para segui-lo e saber se ele realmente teria condições de resolver o caso. Os dois começam então a descobrir assassinatos relacionados a passagens bíblicas e a investigação segue até alcançar o tema central do filme, como o relacionamento homem-mulher pode mudar o rumo de vidas.

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Aqueles de estômago fraco devem pensar duas vezes antes de encarar as duas horas e trinta e dois minutos com cenas fortes e densas. A personagem principal tem problemas de agressividade e por isso tem que ser fiscalizada por um curador. O tutor que deixa a personagem tomar conta da própria vida é substituído por um homem que faz chantagem em troca de favores sexuais. O que se segue, para a construção da personagem é uma cena de estupro seguida pela vingança de Lisbeth, que espanca o homem que cometeu o abuso contra ela.

Aos olhos de um espectador menos atento, a princípio, esse tipo de cena parece desnecessária e incômoda. Mas dessa forma foi alcançada a intenção de incomodar ao mostrar a superioridade que alguns homens pensam ter sobre as mulheres por meio do ato sexual.

Outro detalhe que parece ser confuso é o aparente pouco destaque inicial para a personagem principal. A tradução do título para a língua inglesa é “The girl with the dragon tattoo”, o que leva a crer em uma importância extrema de Lisbeth na história

O maior trunfo do filme é inserir a personagem lentamente, até por uma questão da estética um pouco “agressiva”, visualmente falando e não fazer com que ela se tornasse uma espécie de “mocinha” com a qual estamos acostumados a lidar em histórias de investigação. Durante cada nova situação, Lisbeth mostra novas características que a afastam de uma heroína convencional.

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Outra fuga clara dos padrões está na fusão das histórias de Lisbeth e Blomqvist. O encontro e relacionamento dos dois servem para mostrar uma forma de envolvimento diferente entre pessoas do sexo oposto, sem os romances clichês que muitas vezes servem de válvula de escape para a tensão do assunto tratado no filme ou ainda de atrativo para o público.

Adicione a essa experiência que causa estranhamento, o fato das filmagens terem sido feitas na Suécia e mostrarem belíssimos ambientes totalmente diferentes dos quais estamos acostumados a ver. Além disso, ouvir a distinta sonoridade da língua sueca pode também ser considerado parte do clima instigante dessa produção cinematográfica.

Para os interessados no assunto e que gostarem do filme, as cenas finais deixam a entender que acontecerá uma continuação. Isso também pode ser esperado, uma vez que “Millenium” é uma trilogia e deixa aberto espaço para adaptações dos outros dois livros. O importante é saber se haverá aceitação do público para uma produção estrangeira e já circulam pela internet notícias de uma refilmagem norte-americana para “Os homens que não amam as mulheres” com a probabilidade de corte para as cenas mais pesadas. A ideia me parece o mesmo que tentar mostrar o horizonte a um cego ou tocar música para um surdo.

Texto produzido por Ana Carolina Dias para a disciplina de Jornalismo Cultural no sexto período do curso de jornalismo do UNI-BH.

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